Desistência silenciosa: o que é e como evitá-la
“Desistência silenciosa”, ou quiet quitting (no inglês), é um dos termos da moda de 2022. Mas por que esse fenômeno é uma preocupação para as organizações, e o que os empregadores podem fazer para cortar o mal pela raiz?
Trabalhar até tarde, abrir emails fora do expediente e se voluntariar para organizar atividades extracurriculares têm sido a norma no local de trabalho. No entanto, essa mentalidade está mudando. Os funcionários estão rejeitando e estabelecendo limites para essa cultura de trabalho ininterrupta (e publicando sobre isso nas redes sociais).
Neste artigo, ajudamos você a entender as razões por trás desse fenômeno crescente e oferecemos dicas práticas sobre como evitá-lo.
O que é desistência silenciosa?
Apesar do nome, a desistência silenciosa não está relacionada a desistir do emprego. Significa fazer o mínimo para mantê-lo. Em outras palavras, cumprir apenas as obrigações estabelecidas no contrato de trabalho e “desistir” de fazer qualquer coisa além disso. Os funcionários ainda vão trabalhar, mas não fazem nem mais nem menos do que o esperado. Seria algo parecido como uma operação tartaruga.
A desistência silenciosa é uma forma de desengajamento do funcionário e pode se apresentar de várias maneiras, incluindo:
Cumprir o expediente à risca todos os dias, ou seja, nem um minuto a mais nem um minuto a menos
Recusar-se a responder a mensagens de trabalho fora do expediente
Recusar projetos que não fazem parte da descrição do cargo
Não se voluntariar para tarefas
Assumir somente atribuições fáceis
Sentir uma conexão emocional menor no trabalho
Não se esforçar demais nas tarefas
A desistência silenciosa pode ser vista como um subproduto de outra tendência pós-pandemia, a Grande Demissão, na qual os “desistentes barulhentos” diziam alto e bom som que não se sentiam valorizados e pediam demissão para encontrar novas oportunidades em outro lugar. Os desistentes silenciosos, por outro lado, estão se desconectando mentalmente das empresas onde trabalham no momento, diminuindo silenciosamente o esforço prestado em um momento que as taxas de produtividade estão gerando preocupações. Como assassinos silenciosos, eles podem ser mais letais do que os desistentes barulhentos, pois minam discretamente os resultados sem que você perceba.
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O quanto a desistência silenciosa é praticada?
A desistência silenciosa está ganhando força como forma de lidar com o estresse e o esgotamento causados por longas horas ininterruptas de trabalho. De acordo com uma pesquisa da Gallup, os desistentes silenciosos representam pelo menos 50% da força de trabalho dos EUA. Embora todas as gerações tenham reavaliado o equilíbrio entre vida profissional e pessoal desde a pandemia, a geração Z lidera a reavaliação das escolhas de carreira. Entre os entrevistados, 82% dizem que fazer o mínimo necessário para manter o emprego é uma ideia “boa ou extremamente atraente”.
Esse mantra é destacado em alguns dos milhares de comentários publicados online com a hashtag #quietquitting. Por exemplo: “faço apenas o suficiente para não ser demitido ou notado”; “mudei meu lema profissional para ‘esforçar-se somente o necessário’” e “ir além disso exigiria um salário maior”.
Em termos globais, a Europa tem a menor porcentagem regional de funcionários engajados. No Reino Unido, apenas 9% dos trabalhadores estão engajados ou entusiasmados com o trabalho, ocupando o 33º lugar entre 38 países europeus, de acordo com o relatório global sobre o local de trabalho em 2022, da Gallup. Isso deve ligar o alarme para indicar que a desistência silenciosa precisa ser levada a sério pelos empregadores.
Os trabalhadores da geração Z com menos de 25 anos valorizam a flexibilidade e trabalhos significativos, mas com a pandemia houve um declínio no número de trabalhadores mais jovens que se sentem envolvidos e com oportunidades de desenvolvimento. Isso destaca a importância de garantir que os gerentes estejam bem treinados para nutrir as necessidades dos jovens talentos.
Os efeitos da desistência silenciosa
Superficialmente, desistir silenciosamente pode parecer algo sem importância. Afinal, esses funcionários ainda estão realizando suas tarefas principais. Mas contar com uma força de trabalho disposta a ir além dá a muitas empresas uma vantagem competitiva.
Uma força de trabalho sem engajamento é ruim para o resultado final. Estudos mostram que algumas organizações estão sofrendo perdas financeiras equivalentes a 20% do salário anual dos funcionários que desistem silenciosamente, enquanto o custo anual para a economia mais ampla do Reino Unido é de £ 340 bilhões.
Uma das consequências mais óbvias da desistência silenciosa é a produtividade menor. Embora os funcionários realizem as tarefas, talvez não contribuam para a cultura do escritório nem participam ativamente de atividades de colaboração, brainstormings e reuniões.
Os desistentes silenciosos tendem a ser funcionários outrora entusiasmados que se tornaram sobrecarregados, desvalorizados e desiludidos. O moral baixo os deixam menos engajados com a equipe do que antes. Isso pode desencadear conflitos com colegas e gerar um ambiente de trabalho tóxico em geral.
A Grande Demissão e a escassez de pessoas capacitadas no mercado de trabalho também não estão ajudando. Quando um funcionário sai, pode-se esperar que outros membros da equipe cubram as atividades até que um substituto seja encontrado, em vez de o gerente reduzir a carga de trabalho. Os funcionários podem ficar exaustos e frustrados quando há alta rotatividade ou uma longa espera para treinar novos contratados.
Por que os funcionários estão desistindo silenciosamente?
Embora o conceito de “trabalhar para viver” em vez de “viver para trabalhar” certamente não seja novo, foi exacerbado pela pandemia. Passar períodos de lockdown em casa fez com que muitas pessoas reavaliassem o impacto dos deslocamentos diários, das horas de trabalho e da falta de tempo para a vida pessoal. As razões para desistir silenciosamente incluem:
Organizações que operam em crise
Nos últimos anos, o mundo passou de uma crise para outra, com o surto de COVID-19, a guerra na Ucrânia e a turbulência econômica em andamento. Todos esses eventos globais tiveram um enorme impacto nos negócios e afetaram a estabilidade e a saúde mental das pessoas. Trabalhar em ambientes continuamente estressantes pode afetar até mesmo os funcionários mais positivos.
Má liderança e gestão
Os membros da equipe estão mais propensos a perder o foco quando sentem que seus gerentes não levam em consideração os seus melhores interesses ou não se comunicam de maneira eficaz. Com muita frequência, os funcionários expõem preocupações e sentem que os gerentes não respondem adequadamente.
Quando as pessoas têm a impressão de que os líderes não as apoiam, elas criam barreiras.
Maior segurança trabalhista
Graças à escassez de pessoas capacitadas e os altos custos de recrutamento, o poder passou para a mão dos funcionários com a pandemia. Os trabalhadores não se sentem mais gratos apenas por ter um emprego, mas também querem um trabalho significativo e estão preparados para fazer exigências mais altas em busca disso. Se essas demandas não forem atendidas, eles podem se sentir menos propensos a se dedicar mais.
Funcionários reavaliam a importância do trabalho pós-pandemia
Com a pandemia, muito mais pessoas refletiram sobre as escolhas de carreira, como são tratadas no trabalho e o que é realmente importante para elas. Afinal, é provável que poucos de nós olhem para trás e sintam falta de ter passado mais tempo no escritório. E essa mensagem realmente ganhou força durante a COVID-19. O trabalho não é tudo na vida. Empresas que não promovem um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal não são atraentes.
Funcionários que se sentem desvalorizados e não recompensados
A maioria dos funcionários fica feliz em fazer algo a mais de tempos em tempos, mas a negatividade pode se instalar quando essa mentalidade é tida como algo esperado e se torna a norma.
As pessoas provavelmente não se dedicarão mais caso se sintam desvalorizadas, não apreciadas ou engajadas no trabalho. Baixa remuneração, falta de progressão na carreira e sentimento de desrespeito são apenas alguns dos motivos da perda de interesse dos funcionários.
Como evitar a desistência silenciosa
A desistência silenciosa é uma preocupação para as organizações porque sinaliza a crescente desconexão entre empregadores e funcionários. Confira algumas soluções possíveis para a desistência silenciosa, na intenção de inspirar seus funcionários a sempre darem o melhor.
Controle a carga de trabalho
A sobrecarga de trabalho é um dos maiores fatores de ansiedade e esgotamento. Se você pedir aos funcionários que assumam tarefas extras, faça um acordo de curto prazo ou recompense os esforços com uma promoção.
Os membros menos experientes da equipe talvez gostem de saber como priorizar a carga de trabalho para que não se sintam sobrecarregados. É preocupante saber que menos de quatro em cada dez funcionários remotos ou híbridos jovens sabem o que se espera deles no trabalho. Dê instruções claras, como classificação de tarefas com prioridade alta, média ou baixa.
Reestabeleça os relacionamentos
Construir um relacionamento com sua equipe é crucial, ainda mais agora que muitas pessoas trabalham em casa. O silêncio pode causar preocupação e descontentamento, portanto, mantenha as linhas de diálogo abertas. Líderes que se mostram humanos em vez de figuras de autoridade ou entidades sem rosto do outro lado de um teclado são mais propensos a desenvolver melhores relacionamentos com a equipe.
Curiosamente, um estudo da Harvard Business Review descobriu que os gerentes mais eficientes têm três ou quatro desistentes silenciosos a menos em suas equipes em comparação com os líderes menos eficientes.
Reconheça e recompense as pessoas pelos esforços
Todo mundo quer se sentir valorizado. Uma maneira de fazer isso é manter os salários competitivos em relação ao mercado e aos padrões de vida atuais. No entanto, também tenha em mente que o reconhecimento pode vir de formas não monetárias, como elogios públicos, benefícios e opções de flexibilidade no trabalho.
Ao reconhecer e recompensar os funcionários por um trabalho de destaque, você mostra que o que eles fazem é importante. Além disso, os funcionários visivelmente reconhecidos pelas suas realizações são menos propensos a perder a relevância e desistir silenciosamente.
Dê voz aos funcionários
Os membros da equipe que não se sentem ouvidos podem perder o interesse. Ouvir genuinamente seus funcionários e validar seus sentimentos pode impedir que isso aconteça.
Agendar bate-papos regulares e reuniões de equipe é um bom ponto de partida, tanto online quanto presencialmente. Como líder, você é responsável por criar um ambiente seguro no qual os funcionários se sintam à vontade para falar.
Melhore as iniciativas de bem-estar
Quando você presta mais atenção à saúde mental, física e emocional dos funcionários, eles têm uma probabilidade menor de protegerem o próprio bem-estar afastando-se do trabalho.
Exemplos de medidas positivas que você pode tomar incluem a introdução de treinamento de consciência plena, trabalho remoto pelo menos um dia por semana e suporte de gerenciamento financeiro.
Estabeleça limites claros
Com o trabalho remoto e híbrido, os limites entre a vida pessoal e profissional podem ser difíceis de serem estabelecidos. A desistência silenciosa às vezes é uma reação a um desrespeito aos limites profissionais. Crie uma política definindo que atender ligações ou responder a emails fora do horário comercial é opcional ou introduza um sistema de plantão. Permita que os funcionários que trabalharam até tarde saiam mais cedo em outro dia.
Quanto maior for a proatividade em relação aos direitos dos funcionários no tempo privado, menor será a probabilidade de que eles queiram cuidar disso por conta própria.
Para resumir, a desistência silenciosa é um tema importante porque as características associadas a ela prejudicam a produtividade, o crescimento e os lucros. Os trabalhadores desestimulados não contribuem tanto quanto poderiam. Mas isso também serve como lembrete da importância de manter o equilíbrio e evitar o esgotamento, seja qual for a geração em questão.
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